Sem censo e sem bom senso

A cada 10 anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística conduz o Censo Demográfico. Além de contar quantas pessoas vivem no Brasil, em cada estado, em cada cidade, o Censo identifica como vivem essas pessoas.

Quantas pessoas vivem em área rural e urbana, e como isso vem mudando ao longo do tempo? Qual pirâmide etária da população brasileira? Qual o impacto da pandemia na estrutura etária brasileira? Quais as taxas de fecundidade e de mortalidade no Brasil? Como se distribui a população em grupos étnicos? Quais bairros surgiram nas cidades brasileiras e quantas pessoas moram em cada um deles? Quantos brasileiros moram em comunidades? (…)

Todas essas perguntas, que normalmente seriam respondidas pelo Censo Demográfico, ficarão sem respostas. Imaginem a onda de “fake news” decorrente da falta de informações. Já fico imaginando os grupos de WhatsApp lotados de mensagens falsas; e não teremos sequer a possibilidade de mostra que as informações são mentirosas.

A realização do Censo Demográfico prejudica muito a economia brasileira. Como investir ou decidir onde investir sem as informações sobre o mercado? Isso sem contar nas milhares de oportunidades de emprego, mesmo que temporário, geradas pelo Censo. A não realização do Censo Demográfico prejudica todas as as boas pesquisas populacionais no Brasil – sejam eleitorais ou científicas, as quais baseiam-se nas informações coletadas no Censo. É com base nos dados do Censo que sorteamos estados, cidades, setores, casas e pessoas para participarem de pesquisas populacionais, como o EPICOVID-19. É com base no Censo que os institutos de pesquisa sérios sorteiam brasileiros para responderem às pesquisas de opinião – para medir a aprovação do governo, por exemplo. É com base no Censo que as pesquisas eleitorais sorteiam suas amostras, sejam em nível municipal, estadual ou federal. Como muitas coisas no Brasil, o Censo Demográfico deveria pertencer ao Estado e, não poderia jamais, ser cancelado por desejo de um governo. A falta de transparência é característica básica de qualquer governo corrupto e autoritário.

Por: Pedro Hallal/Folha de São Paulo

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