Mais de um ano depois do início da campanha nacional de imunização contra a covid-19, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para tornar equânime a cobertura vacinal. A constatação é do MonitoraCovid-19, painel desenvolvido pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). De acordo com a plataforma, a estagnação na aplicação das doses e a desigualdade na quantidade de pessoas atingidas entre regiões representam ameaças para o combate à doença.
Dados compilados junto às secretarias de Saúde das unidades da Federação mostram que, até ontem, 79,18% da população tinham o esquema primário — receberam a dose única ou duas doses do imunizante. O número representa quase 170 milhões de pessoas e faz o Brasil figurar entre os cinco países que, em valores absolutos, mais vacinou.
“A desmobilização da população em relação à gravidade da doença e a baixa procura de imunizantes em alguns locais e grupos populacionais proporcionam uma janela de transmissão da doença que pode trazer problemas ao sistema de saúde”, alerta a plataforma.
De acordo com o MonitoraCovid-19, o país teve três fases de vacinação. Na primeira, apesar dos poucos imunizantes disponíveis, houve uma busca grande devido ao cenário enfrentado na época, com altas taxas de infecção e de mortes. A segunda foi caracterizada por um equilíbrio entre oferta e procura, quando a cobertura vacinal avançou em todo o Brasil.
Mas, na terceira, o que se observa é a estagnação da cobertura e a redução na velocidade da imunização. Para Bruno Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict)/Fiocruz, a situação atual é fruto da desinformação.
“Se antes a gente via grupos com teorias conspiratórias, uma situação em que governantes e lideranças começam a fazer esse discurso traz uma insegurança para a população. Consequentemente, boa parte não busca se vacinar. Não se vê empenho do poder público”, lamentou.
Segundo a Fiocruz, a desigualdade regional é um dos fatores que emperram a vacinação. São altas as taxas de imunização no Sul e no Sudeste, sendo que Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm áreas com baixa cobertura.
O uso político também prejudicou a vacinação, segundo o levantamento. A plataforma afirma que ao tentar acelerar a aplicação das doses para a população maior de 18 anos, prefeitos contribuíram para gerar calendários divergentes entre os municípios. Isso provocou um movimento de pessoas para outras cidades em busca dos imunizantes — e o consequente desabastecimento.
Informações por Diário de Pernambuco